Em sua mais recente exposição individual a artista Dedé Ribeiro exibe nova série de trabalhos marcadas por uma novidade temática: a manifestação de sua faceta dramatúrgica na composição de suas colagens. Em suas novas obras é possível perceber pequenas metáforas e até fábulas, formando realidades possíveis trazidas à tona a partir de uma sucessão de escolhas.
O acaso como força motora surge do ato da sucessão de escolhas: a sorte de ter em mãos certa revista, seu material de trabalho; a seleção aleatória de algumas das imagens nelas contidas que são recortadas e armazenadas em uma espécie de banco de imagens; e a manifestação da preferência por um conjunto dessas imagens para composição de uma obra.
A crítica e curadora de arte francesa Catherine Millet escreveu certa vez o seguinte a respeito desse processo de escolhas : “se não acreditamos em predestinação, temos que admitir então que as circunstâncias de um encontro, que por comodidade atribuímos ao acaso, são, na verdade, o resultado de uma incalculável sequência de decisões tomadas em cada cruzamento de nossa vida e que, secretamente, nos levaram até ele. [...].
O que acontece é que cada um de nós age como um artista ou um escritor que constrói sua obra na sucessão de escolhas. Um gesto ou uma palavra não determinam inelutavelmente o gesto ou a palavra seguinte; pelo contrário, coloca seu autor diante de uma nova escolha.”¹
A exposição é dividida em três eixos temáticos: “A Escolha do Acaso” - conjunto de 12 obras que dão nome à exposição e formam um oráculo cuja mensagem será sugerida ao público através de um sorteio realizado por uma roleta criada pela artista; “Diagnóstico por Colagem” - série de colagens feitas usando como base exames médicos (tomografias, raios-x, etc) com títulos-perguntas que instigam o público a interrogar-se sobre a relação da obra com seu título e sobre sua relação com a questão em si; e “Crônicas Visuais”, coletânea de obras de temas como relacionamentos, meio ambiente, questões de gênero, entre outros.
Este é um convite à reflexão sobre o ato de escolher e ao exercício do olhar para o que surge ou acontece a esmo, sem motivo ou explicação aparente.
Francisco Dittrich
¹ A outra vida de Catherine M. (Catherine Millet)